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12.8.10

Matuto no Fitibó

(Wilson Aragão)
Hoje o pessoá do mato
Já está se acivilizano;
Já tem rapaz istudano
Pras banda da capitá;
Já tem moça que namora,
Com o imbigo de fora
Etc, coisa e tá.

Mas essas coisa eu estranho,
Me dano i num acumpanho
A tar civilização.
Nem qui a morte me mate,
Nunca fui numa boate,
Nunca vi televisão.

E esse tar de cinema?
Eu num sei nem cuma é;
Se é home ou se é muié,
Se é da lua ou do só.
Um teatro eu nunca vi,
E também nunca assisti
Um jogo de fitibó.

É isso mermo patrão!
Eu nasci pra sê matuto,
Vivê cuma abicho bruto,
Dando di cumê a gado.
E eu só sei qui sô gente,
Purquê um véio meu parente
Disse que eu sô batizado.

Mas pru arte do pecado
Os fi de cumpade Xico
O fazendêro mai rico
Daquele meu arrebó,
Cum priguiça de istudá
Inventô de inventá
Um jogo de fitibó.

E no pátio da fazenda
Mandô butá duas barra;
E eu fui assisti a farra
Dos lote de vagabundo;
Qui quando eu vi, afroxei,
Acridite qui eu achei
A coisa mió do mundo.

Eu cabôco lazarino,
Cum dois metro de artura,
Os braços dessa grossura,
Medo pra mim é sulipa;
Di jogá tive um parpite,
E aceitei logo o convite
Pru modi pegá de quipa.

Me dero um carção listrado,
E um par de joelheira,
Também um par de chuteira,
E uma camisa de gola.
Eu gritei: arrá diabo!
Que eu já peguei tôro brabo,
Sustentei pelo rabo,
Pur quê num pego uma bola?

Sei qui o jogo cumeçô.
O juiz bom e honesto,
Que por sinal é Ernesto
O nome do apitador;
Qui mitido a justicêro,
Pru modi o jogo pará,
Bastava a gente chutá
A cara do cumpanheiro.

Bola vai, bola vem;
Um tar de Zé Paraíba
Inventô de dá um driba
No fíi de Chica Brejeira;
Esse lhe deu uma rasteira,
Que o pobre do matuto
Passou foi cinco minuto
Rebolando na puêra.

O juiz mandô chutá
Uma bola contra eu,
Porque meu fubeque deu
Um chute no Honorato.
Aí o juiz errô,
O fubeque que chutô
Ele que pagasse o pato.

Mais afiná, meu patrão,
Num gosto de confusão;
Mandei o cabra chutá
E fiquei isperano o choque.
Finarmente a bola vinha,
Vinha tão piquinininha,
Que nem bala de badoque.

Quando eu fui pegá a bola
Me atrapaiei, meu patrão;
Passô pur entre meus braço,
Bateu numa região,
Foi bateno e eu caíno,
Ispuliano no chão.

O povo bateu inriba,
Me deu um chá de jalapa,
Uns três copo de garapa,
E um chá de quixabeira.
Quando eu tive uma miora,
Joguei a chuteira fora
E saí batêno a puêra.

Daquele dia pra cá,
Nem mode ganhá dinêro,
Num jogo mais de golêro
Nem cum chuva, nem cum só;
Nem aqui, nem no diserto
Nunca mais passo nem perto
Dum campo de fitibó.