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28.1.11

La Dernière Translation

by Millôr Fernandes
When an old translator dies
Does his soul, alma, anima,
Free now of its wearisome craft
Of rendering
Go straight to heaven, ao céu,
al cielo, au ciel, zum Himmel,
Or to the hell - Hölle - of the great
traditori?
Or will a translator be considered
In the minute hierarchy of the divine
(himmlisch)
Neither fish, nor water, ni poisson ni l'eau
Nem água, nem peixe, nichts, assolutamente
niente?
What of the essential will this
mere intermediary of semantics, broker
of the universal Babel, discover?
Definitive communication, without words?
Once again the first word?
Will he learn, finally!,
Whether HE speaks Hebrew
Or Latin?
Or will he remain infinitely
In the infinite
Until he hears the Voice, Voz, Voix, Voce,
Stimme, Vox,
Of the Supreme Mystery
Corning from beyond
Flying like a birdpássarouccelopájarovogel
Addressing him in...
And giving at last
The translation of Amen?

- translated from Brazilian Portuguese by Clifford E. Landers, Literary Translation - A Pratical Guide, p. viii.

25.1.11

The Translator’s Invisibility

"I see translation as the attempt to produce a text so transparent that it does not seem to be translated. A good translation is like a pane of glass. You only notice that it’s there when there are little imperfections — scratches, bubbles. Ideally, there shouldn’t be any. It should never call attention to itself."
Norman Shapiro

22.1.11

Boa sorte




Boa Sorte / Good Luck
Composição: Vanessa da Mata e Ben Harper

É só isso
Não tem mais jeito
Acabou, 
Boa sorte
Não tenho o que dizer
São só palavras
E o que eu sinto não mudará

Tudo o que quer me dar
É demais, é pesado
Não há paz
Tudo o que quer de mim
Irreais
Expectativas desleais

That's it
There is no way
It's over
Good luck
I have nothing left to say
It's only words
And what l feel
Won't change

[Refrão]
Tudo o que quer me dar (Everything you want to give me)
É demais (It too much)
É pesado (It's too heavy)
Não há paz (There's no peace)
Tudo o que quer de mim (All you want from me)
Irreais (Isn´t real)
Expectativas (Expectations)
Desleais

Mesmo, se segure
Quero que se cure
Dessa pessoa que o aconselha
Há um desencontro
Veja por esse ponto
Há tantas pessoas especiais

Now even if you hold yourself
I want you to get cured
From this person
Who advises you
There is a disconnection
See through this point of view
There are so many special people in the world
So many special people in the world... in the world
All you want all you want
[Refrão]

Now I’m falling, falling into the night,
Now I’m falling, falling into the night (into the night),
I am falling, falling into the night,
We're falling, falling, falling into the night (bom encontro é de dois).

9.1.11

O consenso da dessemelhança

Que o português falado e escrito no Brasil conserva distanciamentos naturais do português de Portugal e de outras partes do mundo, isso todos já sabem; mas quando o assunto é colocação de pronomes oblíquos átonos, aí a coisa esquenta. Temos nesse objeto uma das maiores, ou talvez a maior das evidências dessa disparidade.
Seja na escrita seja na língua falada, a preferência dos brasileiros é próclise, mesmo que ocorra em abertura de períodos. Sei que os trovões gritadores da dialética gramatical atroaram agora mesmo; por isso, me permitam dizer que há, obviamente, as ressalvas adequadas quando o caso é regulamento culto.
A linguística não nos seria bem útil neste mote? A próclise, justifica Sacconi, é favorita dos brasileiros por causa dos “padrões fonéticos por nós utilizados”, que são diferentes dos aplicados pelos lusitanos.
O Novo Manual da Redação da Folha de São Paulo é particularmente esclarecedor; ele explica:
Os pronomes oblíquos (me, te, se, lhe, o, a, nos, vos) são pronunciados de forma diferente em Portugal e no Brasil. Jamais ocorreria a um português, por menos instruído que fosse, dizer: Me parece que. O e do me praticamente não é pronunciado em Portugal e assim o me antes do parece formaria um encontro consonântico de difícil pronúncia: m'p'rece q. (p. 61, 1992)

Acresço, de forma parentética, ainda outro pensamento de Sacconi:
Não convém usar o hífen nos tempos compostos e nas locuções verbais, pois, na fala brasileira, o pronome oblíquo se liga foneticamente ao verbo principal, e não ao verbo auxiliar, justamente por essa razão é que se ouve e vê comumente:
Vamos nos unir! (Na pronúncia: Vamos nozunir!)
Íamos nos retratar. (Na pronúncia: Vamos nosretratar.)
Mesmo quando aparece um fator de próclise, nos tempos compostos e nas locuções verbais, a preferência, na fala brasileira, é pela colocação do pronome solto entre os verbos. Se não, vejamos:
Não vamos nos aliar a corruptos!
Já íamos nos separar!
Dificilmente entre nós encontramos a colocação típica de Portugal:
Não nos vamos aliar a corruptos!
Ou: Não vamos aliar-nos a corruptos!
nos íamos nos separar!
Ou: Já íamos separar-nos!
Nos tempos compostos, o pronome só não poderá aparecer após o particípio. Assim, temos estas colocações:
Eu me tenho deliciado com Machado de Assis.
Eu tenho me deliciado com Machado de Assis. (Preferida no Brasil)

Essa é uma “característica do português do Brasil que não é mais possível desprezar” (1997, Eduardo Martins, Manual de Redação e Estilo O Estado de São Paulo):
Ele estava se preparando para sair. / Falta d’água pode se agravar hoje. / Ele tinha se revoltado contra o pai. / Devia estar se aborrecendo com tudo aquilo. / Queria se livrar do amigo. / Vai se casar esta semana. / Esses homens podem nos ajudar. / Venho lhe trazer o meu apoio. / Tinha nos decepcionado (p. 70).

Fechados os parêntesis, parece que a dissonância linguística entre nós, irmãos de língua, se dá porque o que chamamos de pronomes oblíquos átonos já não assim tão átonos para os brasilianos:
No Brasil, os pronomes oblíquos têm uma pronúncia mais acentuada. Já deixaram de ser átonos e caminham em direção ao tonalismo; hoje são semitônicos. (O Novo Manual da Redação da Folha de São Paulo, p. 61)
Na pronúncia do Brasil, as formas pronominais oblíquas não são completamente átonas; são, antes, semitônicas. Assim se explica por que entre nós é predominante a tendência para a próclise: Ele terá de se calar. É o que eu queria lhe dizer. As pessoas foram se retirando. Me empreste o livro. (1984, Domingos Paschoal Cegalla, Novíssima Gramática da Língua Portuguesa, p. 444)

Observe atentamente no exemplo acima, onde se diz: “Me empreste o livro”, por Cegalla. Temos, portanto, ocorrências não somente quando o âmbito é a língua falada, pois foi sem reverenciar Napoleão Mendes e seu cabedal de ilustres nomes arrolados no Dicionário de Questões Vernáculas (1994, p. 445) que Érico Veríssimo, Rubem Braga e O Globo se juntaram a Cegalla para iniciar suas frases com próclise:
Me puxou para um lado e me contou que cancelou a viagem.” (Érico Veríssimo)
Me dê esse canivete, meu irmão.” (Rubem Braga)
Me deram até um contrato. Pensei: ‘Meu Deus, eu não entendo nada de televisão’.” (O Globo)
Não obstante, nos exames a que se precede no país há uma notória e nem sempre justificada preferência pela colocação pronominal de uso em Portugal, e não pela nossa topologia”. (Nossa Gramática Contemporânea, p. 360)

Por fim, algumas considerações a mais de um ou dois manuais de redação:
·         A situação dos pronomes pessoais oblíquos em relação aos verbos é diferente no Brasil e em Portugal: há diferença também entre a linguagem falada e a linguagem escrita.
·         O pronome oblíquo abre a frase na linguagem falada: “Me dê a faca.” No jornal, essa forma não é aceitável, a não ser em textos de cronistas.
·         É de uso mais comum no português do Brasil a ênclise (verbo antes do pronome): “Ela deve me ajudar” (em Portugal, “ela deve-me ajudar”).
·         Deve-se evitar a mesóclise (o pronome “dentro” do verbo: “fá-lo-ei”), que soa mal ao ouvido brasileiro. (O GLOBO, Manual de Redação e Estilo - São Paulo, 1994)
·         Trata-se de questão problemática. Há diferenças entre o padrão português e o brasileiro.
·         Com exceção de um ou outro caso, a tendência da Folha é adotar a colocação pronominal brasileira. (2010, Folha de São Paulo, Manual da Redação)

Termino, assim, em lugar nenhum e como comecei: no consenso da dessemelhança.
(Fidus)

7.1.11

Google Ngram Viewer

 O Google lançou uma ferramenta curiosa: um sistema que faz uma varredura em mais de cinco milhões de livros, pesquisando o uso de palavras nos últimos 508 anos (http://ngrams.googlelabs.com/). O sistema exibe, numa linha do tempo cujo período é escolhido pelo usuário, um gráfico comparativo do uso entre mais de uma palavra.
 Essa é mais um utensílio fantástico do Google, um instrumento útil para os que lidam com as palavras, visto que é possível, entre muitas outras coisas, aferir o valor histórico de determinados termos no nicho literário, âmbito de varrição do sistema.
 Ponto negativo: não temos em português 'ainda'(?).
 Bom, enquanto não sai em língua portuguesa, vamos ver se para nós, os que lidam com as palavras, inclusive inglesas, além de uma brincadeirinha divertida, quem sabe numa hora dessas esse troço tenha alguma serventia graúda.