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6.6.11

"Por uma Vida Melhor", livro do MEC


Todos se envolveram na altercação: os titãs Ataliba CastilhoLuiz Fiorin e Cesar Callegari; nem a Academia Brasileira de Letras deixou por menos. Marcos Bagno, o Ministro da Educação, Associação Brasileira de Linguística, a Associação de Linguística Aplicada do Brasil, o escritor de uma coluna da Revista Caras, muito qualificado, por sinal, ou até alguns deles juntos. A Globo não perdeu tempo, o Jornal Nacional, o professor Sérgio Nogueira, a Veja, e por aí vai.

O fato é que este debate, que começou com admirável e profícua discussão, desafortunadamente se embrenhou também numa querela política. Uma lástima! Alguns bem que tentaram se esquivar desse jogo político, outros caíram na arapuca política fatal.

O ministro da educação foi convocado pelos oposicionistas a dar explicações sobre o tal livro numa nítida tentativa dos não-petistas de transformar a gritaria da imprensa em litígio político. O homem apareceu com um tremendo dossiê advogando pelo livro que, ao que parece, está ainda sendo escrito. Em miúdos: ainda hoje o assunto está mais quente do que nunca!

O notável mestre Bechara falou à última Veja esta semana (1 de julho), mas há quem diga que, neste caso, ele está numa difícil berlinda (a ABL?), até mesmo negando seu ‘lado linguístico’ e sua máxima de que “cada falante é um poliglota na sua própria língua” (“Ensino de gramática. Opressão? Liberdade?”; BECHARA, 1986, págs. 12-13; veja também a primeira parte deste formidável vídeo e este outro do mestre, ambos anteriores à discussão aqui). Não é exatamente isto daqui que o livro doutrina?

Fico observando a mídia, que deveria tão-só difundir o debate, mas tem assumido um ardil tal, caricaturando o evento de modo que atenda sua agenda, que só tributa anuviamento ao público. Nessa questão, coaduno com Caetano, que chamou a reação dos jornais, alardeando uma única “página como se fosse a totalidade dos ensinamentos do livro”, de “açodada”. Nesses últimos dias os jornalistas se elegeram os “fiscais dogmáticos” da norma culta (expressão de João Ubaldo Ribeiro, emprestada aqui) com uma oratória, por ironia do destino, às vezes entupida de norma popular e não poucas vezes tendenciosa e alheia ao escrutínio científico e imparcial.

Sobre o livro em si, 1) ele é destinado a jovens e adultos que não tiveram acesso à escola no devido tempo e chegam às escolas com sua ‘variedade gramatical’; o livro parece reconhecer esse fato e, a partir daqui, quer chegar ali; algo razoável, não? 2) O capítulo em questão se intitula “Escrever é diferente de falar”, razão mais do que suficiente para se acalmar os ânimos dos exaltados; 3) a norma culta permeia todas as centenas de páginas dos 4 volumes desta série; 4) o livro faz parte de um cardápio de livros de português entre os quais os educadores têm o poder de escolher ou não; 5) o Manual do Professor desse mesmo livro orienta os mestres quanto à educação a que as escolas se propõem, de forma que fazer julgamentos parciais ou até jogo político é demais! 

Desse modo, dizer que este livro desensina português é algo bastante questionável e tem sido devidamente debatido pelas três grandes partes interessadas: a linguística, a gramática e os falantes da língua portuguesa especialmente no Brasil.

A mídia tem de distinguir o lugar que lhe cabe bem como o lugar dos políticos, e, como disse Bechara neste vídeo, “é preciso que os profissionais da imprensa voltem a estudar a língua”, porque a televisãozinha, a imprensa e a política brasileira... aff, ninguém merece!!!

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